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quinta-feira, abril 06, 2006

A Carta da Amiga (último capítulo)

Entrei no prédio resolvida a subir os dezasséis degraus pela escada. O meu azar foi que o Marcelo ficou a segurar a porta, esperando que eu entrasse.

Como não me decidia, ele puxou-me pelo braço e apertou o botão do meu andar.
Já no terceiro andar ficamos sozinhos. Cheguei a sentir-me aliviada, pois assim a viagem terminaria mais rápido. Pensei rápido demais. O elevador deu um solavanco e as luzes apagaram-se.

Quase instantaneamente a iluminação de emergência acendeu. Marcelo sorriu (ai, aquele sorriso...) e disse que era a bruxa da sexta-feira. Era assim mesmo, logo a luz voltaria, não precisava de se preocupar. Mal sabia ele que eu estava mesmo preocupada.
Amiga, juro que tentei prender. Mas antes que saísse com estrondo, deixei escapar. Abaixei e fiquei respirando rápido, tentando aspirar o máximo possível, como se me estivesse a sentir mal, com falta de ar. Já te imaginaste numa situação dessas? Peidar e tentar aspirar o peido para que o homem mais lindo do mundo não perceba que te peidaste?
Ele ficou muito preocupado comigo e, se percebeu do mau cheiro, não o demonstrou. Quando achei que o odor havia passado, voltei a respirar normalmente. Disse-lhe que eu era claustrófoba. Mal ele me ajudou a levantar, eu não consegui prender o segundo, que saiu ainda pior que o anterior. O coitado dessa vez ficou meio azulado, mas ainda não disse nada.
Abaixei novamente e fiquei a respirar rápido de novo, como uma mulher em estado de parto. Dessa vez, Marcelo manteve-se afastado, no canto mais distante de mim no elevador. Na ânsia de disfarçar, fiquei olhando para a sola dos meus sapatos, como se estivesse à procura da origem daquele fedor horroroso.

Ele ficou lá, no canto, impávido. O cheiro ainda não tinha desaparecido que veio outro de seguida.

Ele desesperou e começou a apertar a campainha de emergência. Coitado!

Ele esmurrou a porta, gritou, esperneou, e eu lá, na respiração cachorrinho. Quando o cheiro dissipou, ele acalmou-se. As lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos. Ele viu-me a chorar, enxugou os meus olhos e disse: "Os meus olhos também estão a arder..." Eu juro que pensei que ele fosse dizer algo bonito. Aquilo magoou-me profundamente.
Pensei: "Ah, é, meu *%$#$%&? Então acabou a respiração cachorrinho..."

Depois disso, no primeiro ele cobriu o rosto com o casaco. No segundo, enrolou a cabeça. No terceiro, prendeu a respiração, no quarto, ele ficou roxo. No quinto, sacudiu-me pelos braços e berrou: "Mulher! Pára de se peidar!". Depois disso ele só chorava.

Chorou como um bebé até sermos resgatados, quatro horas depois.

Entrei no escritório e pedi a minha transferência para outro lugar, de preferência outro País.

Apague este e-mail depois de ler, tá?
Sua amiga,
Marilu







PS: Depois disto, queria pedir desculpas às pessoas mais sensíveis... Sei que não é habitual no meu blog esse tipo de coisas mas não resisti e quebrei com a rotina!

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