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segunda-feira, setembro 12, 2005

O Sentido da Amizade

A amizade é um dos sentimentos mais comuns do Mundo. É com os amigos que desabafamos sobre os nossos problemas. É com eles que vivemos grandes alegrias. É com eles que choramos. A seguir à família, são eles a coisa mais importante deste mundo.
Ontem, no Notícias Magazine, saiu um artigo sobre a definição de amizade da psicóloga Isabel Leal. Passo a escrevê-lo:
"1. Gostamos uns dos outros. Não de todos os outros, ao estilo daquela afirmação pungente e vácua que faz da humanidade um poço de afectos positivos em frenesim de implementação, mas de apenas alguns. E esses alguns de que gostamos, os tais com que nos apetece estar, conversar, partilhar e agregar a nós num tipo qualquer de relação da ordem da pertença, foram-nos dados por circunstâncias irrepetíveis ou conquistámo-los, ainda que sem consciência, ao longo do percurso que fomos sendo capazes de ir tendo. Aos que nos foram dados chamamos família, aos outros, que transcendem o conhecimento casual, referimo-los como amigos.
2. Sobre o vínculo amoroso, que ainda que se erotize não se sexualiza definitivamente, construímos a ideia de amizade. Desse vínculo falamos e sentimos, em diferentes fases da vida, de formas diferentes. Na juventude tem a importância grandiosa dos gestos amplos e das coisas que vieram para ficar. O mundo existe em função do nosso grupo. O lar transmuta-se para valores - mesmo que com outros nomes -, para locais, em que se modela o desejo, a personalidade e o sentido central da existência como se houvesse um, apenas um, e nos fosse acessível.
Na adultícia, que é aquela fase imensa e desamparada em que se espera de nós certezas, definições e desempenhos atinados, os amigos transformam-se em compagnons de route. É um papel curioso, sem atribuições fixas nem falas estudadas. Nuns casos, estão apenas lá e essa existência muda tranquiliza e acalma como a presença dos pais na infância. Noutros casos, enchem-nos a vida de eventos e iniciativas, de programas e compromissos, conduzindo-nos na convicção de que o mundo é um lugar pleno e a realidade tem alguma coisa a ver com a ficção que é narrada nos filmes em que as preocupações sobre os outros constroem o enredo e possibilitam o acesso ao clima emocional que as imagens unidimensionais ainda não permitem.
Na velhice, parece que os amigos se transformam no reduto de todos os sentidos, nos interlocutores únicos de tempos, espaços e histórias que ficaram em suspenso, à espera de serem rememoradas e rematadas, com o olhar final da perda da emoção sobre os acontecimentos que foram.
3. De uns tantos com que nos cruzamos gostamos de uma forma particular. Gostamos o que podemos e como podemos, numa fórmula curiosa de numa vida contermos várias. Usamos o que nos é propiciado para penetrar outras formas de ser, experimentar, mesmo que de longe, outras realidades, saber, ainda que em segunda mão, que existem outras formas de sentir e proceder. Oferecemos o mesmo para a troca e, nesse negócio legítimo, fazemos de conta que a solidão não aflige e que a incomunicabilidade não existe."

Gostava que todos os leitores, identificados ou não, deste humilde espaço reflectissem sobre este pequeno texto. Porque talvez não haja amanhã e talvez não tenhamos tempo para dizer aos nossos amigos o quanto gostamos deles.

1 Vox Angeli:

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