O S.Paio em 1867
Enganam-se os que acham que o S.Paio é uma romaria recente. Durante uma pesquisa laboral, encontrei o livro "Murtosa - Gente Nossa", cuja autoria é do escritor Lopes Perreira. Um ex-libris de tradições e costumes tipicamente murtoseiros.
Foi então que descobri que em 1867 já se festejava o S.Paio. Passo a transcrever um excerto desta fantástica aventura.
"Perdura ainda hoje, entre os mais velhos murtoseiros, a forma da sumptuosidade das festas em que foi recebido o duque de Loulé na sua visita à Torreira, em 1867. Este venerando ancião era filho do também duque de Loulé, velho Mendonça, descendente da estirpe dos senhores de Biscaia, ligados aos Vale de Reis e ao Rolim que tinha sido condenado à morte por ser um dos que invadiram Portugal com as hostes de Massena e a quem D.João VI, em 1821, perdoou no Brasil quando ele pessoalmente o procurou para tal fim, conforme pormenores manuscritos num diário cuja cópia coeva o registo do meu arquivo avaramente guarda. Havia sido o chefe do chamado partido histórico, o qual em 1856 fora incumbido de presidir a um governo moderador sem qualquer inspiração setembrista, erguido perante o grupo de políticos audazes da Regeneração em seus planos de fomento e de economia, aos quais a mocidade ardente de Fontes dava alentos impulsivos, agitando doutrinas renovadoras.
Acompanharam-no na diversão e passeio à linda praia que toda ela se movimentava então nas estúrdias sonorosas da romaria de S.Paio, - festa do melhor cunho e feição folclóricos da região marinhoa - seu filho o Conde de Vale de Reis, o ministro de Estado honorário Matias de Carvalho, o par do reino José da Costa Pinto Basto, D.Luís da Cunha, Figueira Freire, Francisco Ribeiro da Cunha e outras individualidades de relevo. O trajecto fluvial fez-se, ilustrado de grande animação e calor eufórico de vibratidades emocionais, saído do cais da Ribeira, em Ovar, num cortejo inicial de 14 barcos que depois engrossou e se converteu numa flotilha embandeirada passante de 40 embarcações. Os edis camarários de Estarreja e Sever de Vouga apareceram a fazer os seus cumprimentos com bandas de música, assistidos pelas pessoas mais gradas das suas vilas. Os ares atroavam-se com o estampido dos foguetes e dos vivas. À certa altura desta grande manifestação de simpatia acorreram também em mercanteis adornados com festões de flores os arrais da Torreira e "era digno de ver-se a alegria que respiravam aqueles rostos crestados pelo sol de Agosto, aquelas expansões de entusiasmo de almas singelas"..., no dizer do cronista do "Campeão das Províncias". Nunca, nos factos históricos desta costa se viu uma coisa assim!..."
Peço desculpa pela extensão do texto mas está de facto maravilhoso. A forma como tudo é descrito relata bem que a Romaria não mudou assim tanto...