A História no Feminino

Estava eu a ouvir "Don't Cry For Me Argentina" quando me lembrei da mulher que se confunde com o mito. Ela marcou muito para além das fronteiras do seu país, a Argentina. Estou a falar da grande Evita Perón.

Talvez o caso mais gritante de mitificação. Oriunda de uma classe desfavorecida, Eva Perón, Evita, ambiciosa e carismática, com uma controversa carreira de actriz, chega à Casa Rosada pela mão de Juan Perón, numa época difícil da história do seu país.

Malvista e desprezada pelas classes mais altas e idolatrada pelos mais pobres, Evita percebeu muito rapidamente o poder que tinha e usou-o sabiamente. Esta mulher constituiu um exemplo, levado ao extremo, de intervenção política de uma primeira dama. Sempre próxima dos mais desfavorecidos, a sua principal base de apoio e a quem gostava de fazer sentir que pertencia, Evita usava e abusava desta arma. Ironicamente coberta pelas griffes mais caras do tempo, cativava os grandes deste mundo, em especial fora da Argentina.

Ficou célebre a sua viagem de dois meses à Europa, onde foi recebida em apoteose em Espanha e em França (Salazar também a recebeu em Lisboa) e insultada na Suiça. A rainha da Inglaterra recusou-se a recebê-la. A verdade é que Evita e Juan Perón regressaram à Argentina como heróis, apesar das especulações graves de que o casal presidencial era alvo, sobretudo relativas a financiamentos poucos claros. Esta dupla face endeusava a jovem argentina que, com menos de 30 anos, já tinha sido capa de algumas das principais revistas da Argentina, dos Estados Unidos e da Europa.

Eva Perón dedicou-se a fundo à acção social: recebia pobres, dava-lhes dinheiro diretamente, promovia o equipamento social, trabalhava 20 horas por dia. Quando já se pensava que iria candidatar-se a vice-presidente, Evita adoeceu gravemente, com um tumor maligno do útero. Morreu aos 33 anos. Mas o mito permanece.